EU SOU UM CRENTE ESQUISITO

Eu sou um crente esquisito. Bem diferente do que se espera por aí.

Não, eu não gosto de música gospel.

Sim, eu adoro corais e hinos.

Não, eu não acho que você seja obrigado a orar de olhos fechados.

Sim, eu me canso por ficar de pé meia hora na igreja sem motivo aparente.

Não, eu não considero o dízimo obrigatório nem que deva ser 10%.

Sim, eu considero que você deva dar aquilo proposto no seu coração. Até muito mais que 10%, desde que você não esteja iludido ou coagido, ou faça isso a despeito de grande necessidade sua ou da família.

Não, eu não acho que membro de igreja não deva contribuir com nada.

Sim, eu acho importante que o/a eclesiano/a defina um valor, dentro do proposto no seu coração e da capacidade de seus ganhos e de suas posses, a contribuir mensalmente para as despesas da comunidade em que congrega.

Não, eu não acho que o projeto principal de Deus seja a família.

Sim, eu avalio tudo que leio na Bíblia a partir das orientações de Jesus Cristo. Tanto o que está antes dele, como o que vem escrito depois.

Não, eu não acho que crente não se deve meter em política.

Sim, eu acredito que Jesus vai voltar e que isso não é metafórico.

Não, eu jamais colocaria uma bandeira de Israel na frente da minha igreja.

Sim, eu percebo que Jesus Cristo fez uma releitura da lei e que nós também somos convidados, por ele mesmo, a também fazer isso.

Não, eu não acho que o mundo deva viver de acordo com o que eu considero importante religiosamente.

Sim, eu gosto de rituais e das orientações religiosas.

Não, eu não gosto de relacionar doutrina com moralismo.

Sim, eu acho que escola dominical (educação cristã bíblica) deve ser uma das prioridades da igreja.

Não, eu não tenho um pingo de problema com palavrão. Reservado o dever de observar o registro do uso.

Sim, eu tenho ojeriza por expressões como “Deus é tremendo” e “intimidade com Deus”, além do verbo “ministrar” (que serve pra qualquer coisa).

Não, eu não acho que orar seja somente quando você separa um momento especial para isso. Ele é necessário, mas eu oro sempre. A todo momento estou falando com Deus.

Sim, eu envolvo Deus em tudo que faço. Sim. Tudo!

Não, eu não acho que humor prejudica a imagem de Deus. Nem acho que a gente precise defendê-lo disso. Afinal, já se foi o pretenso tempo de monges sumirem com o mítico livro A Comédia, para que pessoas não sorrissem (pretensa ação que agrada ao Diabo).

Sim, eu tenho total consciência de que líderes cristãos são falhos, como qualquer ser humano, e que, por isso mesmo, precisam de nosso apoio, nossas orações e nossa compreensão, especialmente em momentos em que suas falhas humanas ficam evidentes.

Não, eu não gosto de emocionalismo. Dessa forma, acabo com medo de expressar emoções, por saber que o emocionalismo pode ser usado como uma forma de angariar empatia para objetivos escusos.

Sim, eu posso estar extremamente emocionado, mesmo sem estar chorando ou de olhos fechados ou pulando ou gritando.

Não, eu não pretendo lutar por cargos altos na igreja. Quero ser apenas um servo.

Sim, eu gosto de black metal.

Não, eu não tenho o menor problema com carnaval.

Sim, eu gosto de charutos (“Um charuto para a glória de Deus” – Spurgeon).

Não, eu não acho que se deva evitar congregação por sabermos que nela há pessoas que fazem fofoca, magoam, têm inveja, brigam por poder ou manipulam grupos.

Sim, eu sei que a igreja, como instituição, acabou sendo espaço de investimento para muitos empresários da fé alheia. Mas isso não me faz viver achando que devo estar afastado de toda e qualquer comunidade de fé.

Não, eu não gosto de cerveja. Não sou tão amante de vinho. Mas gosto muito de Coca-Cola e gosto de rum e espumantes.

Sim, a Sexta-Feira de Trevas é o dia do Calendário Litúrgico que mais me emociona.

Não, eu não acho que as universidades tiram a fé dos jovens.

Sim, eu considero os estudos propedêutico e teológico muito importantes para a formação cristã e pastoral.

Não, eu jamais vou aceitar a violência e a vingança como nossas ações em nome de Deus.

Sim, eu creio que Jesus, sendo a manifestação de Deus para nós, deixou claro que amar é a nossa principal tarefa, e que, por ele, entendemos que Deus é amor.

Não, eu não vou aceitar julgamentos humanos.

Sim, a minha vida está nas mãos de Deus, que dirige meu destino.

Eu sou esquisito?… mas sou crente… e muito… em Jesus Cristo!

Noli Tangere Me!

SX

(Inverno de 2019)

Imagem: em luizcarlosramos.net