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15. OS “PROBOS” DA NOSSA ÉPOCA (Jornal de Brasília – 5 de setembro de 2017. p 21)

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OS "PROBOS" DA NOSSA ÉPOCA
Quando foi sugerida a demissão do gerúndio pelo então governador Arruda, e já falei sobre isso neste nosso espaço de reflexão da língua, escrevi um texto com o título “Probo de novo?”. Justamente abordando a situação de alguém que quer obrigar escritas ou falas.

Mas quem foi Probo?
No século 4º a.C., foi produzida uma lista denominada Appendix Probi, que quer dizer, em latim, “apêndice de Probo”. Essa pessoa identificada assim não tem precedência exata, mas é tratada com esse nome.

Probo mostra uma lista em que orienta que não se fale “erradamente” palavras do latim. Vejam exemplos da lista: speculum non speclum, oculus non oclus. Era como “o certo é isso, não aquilo”. Como “mi-mi-mi não mimimi” (lembra?). São 227 orientações como essas.

E os Probos modernos?
Agora lá vem o caso que me fez lembrar do Probo: estávamos, eu e a grande amiga linguista Ana Terra, conversando sobre uma página na internet de uma pessoa que se declarava como a vigia da língua culta (???). Falava de erro com tanto rancor e da sua obcecação por “corrigir” textos, a ponto de ler livros com um lápis na mão. Além da ideia de que linguistas admitem ensino da língua sem gramática tradicional.

Enfim, amigos que pensam a língua comigo: claro que há orientações básicas sobre a norma padronizada. Não trato a língua como “culta” porque penso que essa definição depende de uma casta que se considera superior. Quanto ao erro, recordemos Probo: sua orientação oculus non oclus, por exemplo, era uma tentativa de manter o “culto”. Todavia, faltou-lhe percepção de que aquela coisa viva, a língua, estava mudando, crescendo, evoluindo (até chegar a morrer!). Oclus virou, nada mais, nada menos, que “olho”. Evoluiu. Probo perdeu. E se seguimos seus conselhos, fossilizaremo-nos. Isso nada tem a ver com advogar a favor de ensino sem gramática tradicional... nada!

Aprendendo com o que chamamos de erro
Para além de chamar de erro um comportamento gramatical, seja de grafia, de sintaxe, morfossintaxe ou até pronunciação, creio que seja mais importante perceber o fenômeno em si e alertar para a possível mudança. Deixo claro que sou altamente a favor de correções, adaptações à norma padronizada e revisões. Afinal, sou revisor também e vou falar mais disso na próxima.

MEA CULPA: Na coluna passada, no último parágrafo, falei de palavras que perderam a noção de composição e ficaram juntas, como “manda-chuva” e “paraquedas”. Claro que mandachuva está errado, e se escreve como dessa última forma. Alertou-me o amigo Paulo Baffa Jr., que está morando na Malásia. Aproveito e lembro que gentílicos compostos levam hífen: afro-brasileiro, luso-americano, ítalo-germânico. Mas, lembre que afrodescendente não tem. Caso diferente, né?

Pelo link abaixo, você consegue baixar, gratuitamente, a página em PDF no site do Jornal de Brasília:

https://cdn-acervo.sflip.com.br/temp_site/issue-5756-3c06399b05106dcefc69b52485caaf61.pdf

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