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76. OS DIALETOS E A QUESTÃO DO ENEM (Jornal de Brasília – 13 de novembro de 2018. p. 23)

Os dialetos e a questão do Enem

A famosa questão do Enem sobre dialetos levantou um debate nada relevante na avaliação dos candidatos. De fato, o assunto era muito importante, bastante necessário e até, eu diria, básico, para quem tem que demonstrar seus conhecimentos de linguagem. Mas, o foco deveria ser um e não outro.

Língua e dialeto

Primeiramente, vamos entender um pouco dessa distinção entre língua e dialeto. Cada vez mais, as pessoas estão entendendo que dialeto não é uma língua menor, de menos importância, com quantidade pequena de falantes ou de povos mais rústicos. Dialeto, nada mais é que uma variação dentro de uma língua. Chamar uma língua indígena de dialeto é desrespeito, por exemplo.

Um país pode ter várias línguas diferentes. Na Suíça, com região tão pequena, fala-se romanche, italiano, francês e alemão. Na Alemanha e na Itália, há vários dialetos diferentes. Alguns até têm dificuldade de compreensão entre si.

Note que temos no Brasil o português. Os dialetos são tantos e muito variados, como por região geográfica: fala-se em dialeto carioca, paulista, nordestino etc. Pode ser por outras divisões como de estrato. Nesse caso, enquadra-se o dialeto escolhido para a tal prova: o chamado pajubá, relacionado com pessoas identificadas com gays e travestis.

A questão em si

O que foi elaborado para verificar o conhecimento do candidato em linguagem? Veja: “Da perspectiva do usuário, o pajubá ganha ‘status’ de dialeto, caracterizando-se como elemento de patrimônio linguístico, especialmente por (a) ter mais de mil palavras conhecidas (b) ter palavras diferentes de uma linguagem secreta (c) ser consolidado por objetos formais de registro (d) ser utilizado por advogados em situações formais (e) ser comum em conversas no ambiente de trabalho.

Considerando que há muitos textos motivacionais para as questões, a ilustração do pajubá poderia nem ter sido lida para responder aos itens com objetividade. Para seu conhecimento, trata-se da letra (c) como resposta correta. Os objetos formais no uso da linguagem dentro de seu ambiente são caracterizados por itens lexicais (palavras) específicos e até mesmo construção sintática especial.

Preocupações equivocadas

Percebi muitos comentários somente sobre o texto sem se ater à especificidade da questão, o que era efetivamente importante. Uma delas falava da “tradução” da frase em pajubá, que não tinha nada de obsceno. Outra questionava “o que temos a ver com isso?”. Uma dúvida sem sentido, já que o profissional da linguagem busca conhecimento em todas as vertentes.

Por fim, é bom saber que o bom poliglota deve sê-lo, primeiramente, em sua própria língua. Fiquei incomodado por ter tido dificuldade em traduzir a frase do pajubá, considerando que essa comunidade está na sociedade do meu país.

Pelo link abaixo, você consegue baixar, gratuitamente, a página em PDF do Jornal de Brasília:

https://acervo.maven.com.br/temp_site/issue-6417-975c4377d26dde180dc0e7250e8fa1da.pdf

2 comentários em “76. OS DIALETOS E A QUESTÃO DO ENEM (Jornal de Brasília – 13 de novembro de 2018. p. 23)”

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